Mateus 13,44
"O Reino dos céus é semelhante a um tesouro oculto no campo, o qual certo homem, tendo-o achado, escondeu, e, transbordante de alegria, vai, vende tudo o que tem, e compra aquele campo" (Mateus 13,44).
As parábolas do tesouro escondido e da pérola de grande preço são registradas somente por Mateus. Junto com a parábola da rede elas compõem o trio concludente de parábolas com as quais Jesus encerra sua série sobre a natureza do reino do céu. Diferindo das parábolas anteriores, dirigidas à multidão, estas aparentemente foram ditas em particular aos seus discípulos.
Duas parábolas contêm a mesma mensagem: o incomparável valor do reino de Deus. Mas cada uma tem seu próprio e único modo de apresentar sua lição e merece ao menos algum tratamento individual.
A única disputa real sobre o significado destas duas parábolas que afetaria radicalmente sua mensagem é sobre o que Jesus quis dizer nelas com "o reino".
Há quem defenda o ponto de vista onde o fazendeiro e o negociante, nestas duas histórias, representam Cristo, e que o "tesouro escondido" e a "pérola de grande preço" representam a igreja, cuja redenção do pecado custou-lhe literalmente tudo, um preço que Jesus alegremente pagou. Não há motivo para disputar a verdade de uma tal idéia, mas a questão é se essa é a mensagem destas parábolas.
A palavra grega baseleia (reino) certamente inclui, por implicação, aqueles que são dominados, mas sua idéia raiz é o poder e o domínio do rei. O valor do reino do céu não se apóia principalmente naqueles que, pela graça divina, tiveram permissão para recebê-lo, mas na glória e no poder do Deus que reina sobre ele. Todas as parábolas de Jesus sobre o reino falam deste ponto, de como o reino cresce. Nada no contexto destas duas parábolas sugeriria que, nelas, Jesus voltasse sua atenção para longe de como ele estabeleceria seu reino entre os homens, para falar sobre o grande valor que ele dá a homens e mulheres perdidos. É um ponto válido defendido poderosamente em outros lugares, porém, cremos, não aqui.
Conversas sobre tesouros enterrados, no final do século vinte, trazem à memória o disparate semi-lendário sobre o botim do pirata escondido longe, em alguma caverna de uma ilha, onde aguarda sua retirada pelo afortunado. Mas na Palestina do primeiro século ela não foi tão forçada. A desordem que guerras e revoluções impuseram regularmente ao mundo oriental tornou necessário aos homens o enterrar de valores que não podiam seguramente carregar consigo quando forçados a fugir para salvar suas vidas. Algumas vezes, jamais voltaram para reclamar sua propriedade enterrada e a terra passou para aqueles que não tinham conhecimento do que estava enterrado nela. A Bíblia se refere a essa prática. O assassino que matou o governador caldeu de Judá poupou as vidas de dez homens para conseguir o rico armazém de mercadorias que eles declaravam ter escondido num campo (Jeremias 41,8). Era também a base de uma metáfora comum no mundo antigo. Jó falou daqueles que procuravam a morte "mais do que tesouros ocultos..." (Jó 3,21) e Salomão insta com os jovens a que busquem sabedoria "como a tesouros escondidos..." (Provérbios 2,4).
O homem, na história de Jesus, que encontra acidentalmente um valioso tesouro enterrado em um campo, claramente não estava numa caça ao tesouro.
Ele estava provavelmente apenas arando a terra de outro homem quando o arado bateu e expôs alguma coisa que não era nem pedra nem toco. Incrédulo de sua boa sorte, com o coração palpitando pela excitação, o homem rapidamente reenterra seu achado e vai justamente estourando de alegria secreta e vende tudo o que tem para comprar o campo. Pode-se bem imaginar que todos os seus amigos e vizinhos podem ter pensado que ele estivesse completamente louco, vendendo todas as suas apreciadas posses para comprar um campo que não valia metade do que estava pagando e rindo a bom rir enquanto tudo o que possuía entrava no leilão. Sendo a natureza humana o que é, eles provavelmente lhe disseram simplesmente que ele estava louco varrido e podiam bem ter tentado conter à força sua loucura. Mas absolutamente nada poderia detê-lo, nem o ridículo, nem ameaças, nem insulto; porque ele tinha visto, e sabia, que o tesouro oculto naquele campo valia tudo o que possuía e cem vezes mais.
O reino do céu é assim, Jesus disse, um tesouro tão fabulosamente grande que vale tudo o que um homem possui, cada relação que ele jamais teve ou espera ter, mesmo sua própria vida (Mateus 10,37-39; Lucas 14,25-26). Aqueles que acham o reino celestial serão provavelmente considerados loucos pelos ignorantes. Não é fácil ser são numa casa de loucos, mas quando sabemos o valor eternal do que encontramos em Cristo, não obstante todos os outros, a alegria desse segredo certamente nos levará através das mais duras perdas sem a menor queixa. Essa é a "alegria indizível e cheia de glória" que vem ao descobrir o significado da vida, o tesouro que vale todos os outros juntos.
Com minha pobre benção.
Pe. Emílio Carlos +
Duas parábolas contêm a mesma mensagem: o incomparável valor do reino de Deus. Mas cada uma tem seu próprio e único modo de apresentar sua lição e merece ao menos algum tratamento individual.
A única disputa real sobre o significado destas duas parábolas que afetaria radicalmente sua mensagem é sobre o que Jesus quis dizer nelas com "o reino".
Há quem defenda o ponto de vista onde o fazendeiro e o negociante, nestas duas histórias, representam Cristo, e que o "tesouro escondido" e a "pérola de grande preço" representam a igreja, cuja redenção do pecado custou-lhe literalmente tudo, um preço que Jesus alegremente pagou. Não há motivo para disputar a verdade de uma tal idéia, mas a questão é se essa é a mensagem destas parábolas.
A palavra grega baseleia (reino) certamente inclui, por implicação, aqueles que são dominados, mas sua idéia raiz é o poder e o domínio do rei. O valor do reino do céu não se apóia principalmente naqueles que, pela graça divina, tiveram permissão para recebê-lo, mas na glória e no poder do Deus que reina sobre ele. Todas as parábolas de Jesus sobre o reino falam deste ponto, de como o reino cresce. Nada no contexto destas duas parábolas sugeriria que, nelas, Jesus voltasse sua atenção para longe de como ele estabeleceria seu reino entre os homens, para falar sobre o grande valor que ele dá a homens e mulheres perdidos. É um ponto válido defendido poderosamente em outros lugares, porém, cremos, não aqui.
Conversas sobre tesouros enterrados, no final do século vinte, trazem à memória o disparate semi-lendário sobre o botim do pirata escondido longe, em alguma caverna de uma ilha, onde aguarda sua retirada pelo afortunado. Mas na Palestina do primeiro século ela não foi tão forçada. A desordem que guerras e revoluções impuseram regularmente ao mundo oriental tornou necessário aos homens o enterrar de valores que não podiam seguramente carregar consigo quando forçados a fugir para salvar suas vidas. Algumas vezes, jamais voltaram para reclamar sua propriedade enterrada e a terra passou para aqueles que não tinham conhecimento do que estava enterrado nela. A Bíblia se refere a essa prática. O assassino que matou o governador caldeu de Judá poupou as vidas de dez homens para conseguir o rico armazém de mercadorias que eles declaravam ter escondido num campo (Jeremias 41,8). Era também a base de uma metáfora comum no mundo antigo. Jó falou daqueles que procuravam a morte "mais do que tesouros ocultos..." (Jó 3,21) e Salomão insta com os jovens a que busquem sabedoria "como a tesouros escondidos..." (Provérbios 2,4).
O homem, na história de Jesus, que encontra acidentalmente um valioso tesouro enterrado em um campo, claramente não estava numa caça ao tesouro.
Ele estava provavelmente apenas arando a terra de outro homem quando o arado bateu e expôs alguma coisa que não era nem pedra nem toco. Incrédulo de sua boa sorte, com o coração palpitando pela excitação, o homem rapidamente reenterra seu achado e vai justamente estourando de alegria secreta e vende tudo o que tem para comprar o campo. Pode-se bem imaginar que todos os seus amigos e vizinhos podem ter pensado que ele estivesse completamente louco, vendendo todas as suas apreciadas posses para comprar um campo que não valia metade do que estava pagando e rindo a bom rir enquanto tudo o que possuía entrava no leilão. Sendo a natureza humana o que é, eles provavelmente lhe disseram simplesmente que ele estava louco varrido e podiam bem ter tentado conter à força sua loucura. Mas absolutamente nada poderia detê-lo, nem o ridículo, nem ameaças, nem insulto; porque ele tinha visto, e sabia, que o tesouro oculto naquele campo valia tudo o que possuía e cem vezes mais.
O reino do céu é assim, Jesus disse, um tesouro tão fabulosamente grande que vale tudo o que um homem possui, cada relação que ele jamais teve ou espera ter, mesmo sua própria vida (Mateus 10,37-39; Lucas 14,25-26). Aqueles que acham o reino celestial serão provavelmente considerados loucos pelos ignorantes. Não é fácil ser são numa casa de loucos, mas quando sabemos o valor eternal do que encontramos em Cristo, não obstante todos os outros, a alegria desse segredo certamente nos levará através das mais duras perdas sem a menor queixa. Essa é a "alegria indizível e cheia de glória" que vem ao descobrir o significado da vida, o tesouro que vale todos os outros juntos.
Com minha pobre benção.
Pe. Emílio Carlos +
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