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sábado, 22 de janeiro de 2011

3º DOMINGO DO TEMPO COMUM-ANO A
«Arrependei-vos, porque o reino de Deus está próximo».

A liturgia deste domingo apresenta-nos o projeto de salvação e de vida plena que Deus tem para oferecer ao mundo e aos homens: o projeto do “Reino”.

Na primeira leitura, o profeta/ Isaías anuncia uma luz que Deus irá fazer brilhar por cima das montanhas da Galileia e que porá fim às trevas que submergem todos aqueles que estão prisioneiros da morte, da injustiça, do sofrimento, do desespero.
O texto está construído sobre um jogo de oposições: “humilhar/cobrir de glória”, “trevas/luz”, “caminhar nas sombras da morte (desolação, desespero)/alegria e contentamento”. Os conceitos negativos (“humilhar”, “trevas”, “caminhar nas sombras da morte”) definem a situação atual; os conceitos positivos (“cobrir de glória”, “luz”, “alegria e contentamento”) definem a situação futura.

Como se passará da atual situação de opressão, de frustração, de desespero, à situação futura de alegria, de contentamento, de esperança?

O profeta fala de “uma luz” que irá começar a brilhar por cima dos montes da Galileia e que irá iluminar toda a terra. Essa luz eliminará “as trevas” que mantinham o Povo oprimido e sem esperança e inaugurará o dia novo da alegria e da paz sem fim.

É Jesus, a luz que ilumina o mundo com uma aurora de esperança, que dá sentido pleno a esta profecia messiânica de Isaías. Ele é “Aquele que veio de Deus” para vencer as trevas e as sombras da morte que ocultavam a esperança e instaurar o mundo novo da justiça, da paz, da felicidade.
No entanto, a luz de Jesus é, hoje, uma realidade instituída, viva, atuante na história humana?

Acolher Jesus é aceitar esse projeto de justiça e de paz que Ele veio propor aos homens. Esforçamo-nos por tornar realidade o “Reino de Deus”?
Como lidamos com as situações de injustiça, de opressão, de conflito, de violência: com a indiferença de quem sente que não tem nada a ver com isso enquanto essas realidades não nos atingem diretamente, ou com a inquietação de quem se sente responsável pela instauração do “Reino de Deus” entre os homens?

O Evangelho descreve a realização da promessa profética: Jesus é a luz que começa a brilhar na Galileia e propõe aos homens de toda a terra a Boa Nova da chegada do “Reino”. Ao apelo de Jesus, respondem os discípulos: eles serão os primeiros destinatários da proposta e as testemunhas encarregadas de levar o “Reino” a toda a terra.

O convite à conversão (“metanoia”) é um convite a uma mudança radical na mentalidade, nos valores, na postura vital. Corresponde, fundamentalmente, a um reorientar a vida para Deus, a um reequacionar a vida, de modo a que Deus e os seus valores passem a estar no centro da existência do homem; só quando o homem aceita que Deus ocupe o lugar que lhe compete, está preparado para aceitar a realeza de Deus… Então, o “Reino” pode nascer e tornar-se realidade no mundo e nos corações.

Para que o “Reino” seja possível, Jesus pede a “conversão”. Ela é, antes de mais, um refazer a existência, de forma a que só Deus ocupe o primeiro lugar na vida do homem. Implica, portanto, despir-se do egoísmo que impede de estar atento às necessidades dos irmãos; implica a renúncia ao comodismo, que impede o compromisso com os valores do Evangelho;
Implica o sair do isolamento e da auto-suficiência, para estabelecer relação e para fazer da vida um dom e um serviço aos outros…
O que é que nas estruturas da sociedade ainda impede a efetivação do “Reino”?
O que é que na minha vida, nas minhas opções, nos meus comportamentos constitui um obstáculo à chegada do “Reino”?

A segunda leitura apresenta as vicissitudes de uma comunidade de discípulos, que esqueceram Jesus e a sua proposta. Paulo, o apóstolo, exorta-os veementemente a redescobrirem os fundamentos da sua fé e dos compromissos assumidos no batismo.
«Arrependei-vos, porque o reino de Deus está próximo».
O texto recorda que a experiência cristã é, fundamentalmente, um encontro com Cristo; é d’Ele e só d’Ele que brota a salvação. A vivência da nossa fé não pode, portanto, depender do carisma da pessoa tal, ou estar ligada à personalidade brilhante deste ou daquele indivíduo que preside à comunidade. Para além da forma mais ou menos brilhante, mais ou menos coerente como tal pessoa anuncia ou testemunha o Evangelho, tem de estar a nossa aposta em Cristo; é n’Ele e só n’Ele que bebemos a salvação; é a Ele e só a Ele que o nosso compromisso batismal nos liga.

Cristo é, de fato, a minha referência fundamental?

É à volta d’Ele e da sua proposta de vida que a minha experiência de fé se constrói?
Em concreto: que sentido é que faz, neste contexto, dizer que só se vai à missa se for tal padre a presidir?
Que sentido é que faz afastar-se da comunidade porque não gostamos da atitude ou do jeito de ser deste ou daquele animador?
Neste contexto, ainda, que sentido fazem os ciúmes, os conflitos, os partidos, que existem, com freqüência, nas nossas comunidades cristãs?
Cristo pode estar dividido?

Porque nós estamos retalhando ainda o corpo de Cristo!
Os conflitos e as divisões não serão um sinal claro de que, algures durante a caminhada, os membros da comunidade perderam Cristo?
As guerras e rivalidades dentro de uma comunidade não serão um sinal evidente de que o que nos move não é Cristo, mas os nossos interesses, o nosso orgulho, o nosso egoísmo?
Há casos em que as pessoas com responsabilidade de animação nas comunidades cristãs favorecem, consciente ou inconscientemente, o culto da personalidade. Não se preocupam em levar as pessoas a descobrir Cristo, mas em conduzir o olhar e o coração dos fiéis para a sua própria e brilhante personalidade.

Foi Paulo quem foi crucificado em benefício dos coríntios?

Deve ficar bem claro que o importante não é quem batizou ou quem anunciou o Evangelho: o importante é Cristo, do qual Paulo, Cefas e Apolo são simples e humanos instrumentos.

Os coríntios são, portanto, intimados a não fixar a sua atenção em mestres humanos e a redescobrir Cristo, morto na cruz para dar vida a todos, como a essência da sua fé e do seu compromisso. Dessa forma, a comunidade será uma verdadeira família de irmãos, que recebe vida de Cristo, que vive em unidade e comunhão.

com minha benção
Pe.Emílio Carlos+

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