13º Domingo do Tempo Comum - C
“Povos todos, aplaudi e aclamai a Deus com brados de alegria”(Sl. 46,2)
Meus queridos Irmãos,
No domingo passado Jesus anunciou de que modo ele seria o Messias, o “líder”; e convocou a todos para assumirem sua cruz no dia-a-dia do Seu Seguimento. Hoje, por conseguinte, vemos Jesus dirigir seus passos em direção de Jerusalém, pois, “completaram-se os dias para ser arrebatado”(cf. Lc 9, 51).
Jesus costumava subir todos os anos a Jerusalém. O Evangelho de hoje é o início da grande viagem. Nesta viagem vai aparecendo e se revelando o mistério da pessoa e da missão de Jesus e as qualidades que o Ministro deve ter.
Como “estava para completar-se o tempo da consumação”(Lc 9, 51), ou seja, indicando o sofrimento e a glória ao mesmo tempo em que Jerusalém é apontada, deixando de ser pensada apenas como cidade, torna-se sinônimo de paixão, morte, ressurreição e ascensão de Jesus. Na Cruz, o Senhor Jesus dirá: “Tudo está consumado”(cf. Jo 19,20). Em Jerusalém será elevado à Cruz e elevado aos céus. (cf. Lc 24,50). Em Jerusalém começara a Igreja, corpo vivo do Senhor! (cf. 1 Cor 12,24).
Caros irmãos,
A Primeira Leitura deste domingo(cf. 1Rs 19,16b.19-21) demonstra a radicalidade do seguimento do profeta. Com vistas ao tema do Evangelho, narra-se a vocação de Eliseu para seguir Elias. A indicação de Josué, por Moisés(cf. Nm 28,18-19), acontece pela imposição das mãos; de modo semelhante, Elias estende seu monte sobre Eliseu para o indicar como seu sucessor. A resposta de Eliseu é radical: despede-se logo de sua família e sacrifica sua junta de bois, para seguir, completamente livre, a Elias. A exigência de Jesus será mais radical ainda, conforme veremos no Evangelho de hoje, já antecipado no Salmo Responsorial: “Ó Senhor, sois minha herança para sempre”.(cf. Sl. 15).
A Segunda Leitura(cf. Gl. 5,1.13-18) nos coloca diante da liberdade cristã. Na época em que viveu São Paulo, as tradições do judaísmo colocavam a liberdade cristã em perigo. Hoje são outras forças que fazem isso. Mas todas essas ameaças são “carne”, o contrário do Espírito. Jesus nos convida à liberdade que se revela nele mesmo: sendo livre, pode dar a sua vida por nós.
Irmãos e Irmãs,
O Evangelho de hoje(cf. Lc. 9,51-62) nos provoca a uma caminhada interior. A mesma caminhada que Jesus faz para Jerusalém. Partir do que somos até o esvaziamento completo de nós mesmos e a vivência em plenitude da vontade do Pai. É essa caminhada por dentro de nós que nos possibilita, de perto Jesus, a morrer e ressuscitar com ele e com ele ser glorificados.
Assim todos nós devemos ter presente que a vida cristã é o seguimento de Cristo. Seguir Jesus significa imitar e colocar-se atrás de Jesus para caminhar sobre seus passos. O Evangelho de hoje apresenta-nos Jesus a caminho e os discípulos caminhando com ele. Caminhada em dois âmbitos: no pó da estrada e na confusão do nosso coração. Mais importante do que tudo isso é a caminhada dentro de nós, a luta e o combate espiritual, se Jesus está na nossa frente como modelo e guia.
Seguimento de Jesus que exige de nós uma decisão, uma mudança radical de vida para seguirmos a Jesus, para caminharmos com Jesus, para sermos santos e cumprimos a nossa missão de anunciar o Evangelho a todas as criaturas.
Amados Irmãos,
Amados em Cristo, isto mesmo, amados em Cristo porque Jesus passou a maior parte de sua vida distribuindo o amor, vivenciando a compaixão e ensinando a perdoar. Isso, porque entre os judeus e samaritanos existia um ódio de morte e contínuos atritos de fundo religioso, racial e político. Os samaritanos eram intrusos, sem o querer. Quando os assírios destruíram o reino de Israel, em 722 a.C., deportaram todos os habitantes da região e, em seu lugar, trouxeram um povo pagão. Voltando os israelitas, inclusive o monoteísmo. Mas, não tendo sangue hebreu, jamais conseguiram a amizade, nem mesmo comercial, com os judeus. É, então, compreensível que os samaritanos neguem hospedagem ao grupo de Jesus pelo fato de ser evidente que estavam indo para Jerusalém.
Tudo tem o seu significado: Quando Jesus foi a primeira vez a Jerusalém, ainda no seio de Maria, para alcançar Belém, não havia lugar na hospedaria. Agora, na última ida a Jerusalém, quando deve acontecer o Natal de toda a humanidade, também não há lugar. Hospedar-se, sentar-se à mesa com alguém indicam aceitação. E Jesus não é aceito, é rejeitado. Mas sua resposta não é a violência e a vingança como querem Tiago e João. Cristo é a encarnação da misericórdia e o tempo, agora, é de perdão e salvação. O fogo que Jesus enviará não é destruidor, mas o fogo do Espírito Santo, no dia de Pentecostes, com força para “derrubar os muros da separação e da inimizade”(cf. Ef 2,14).
Irmãos e Irmãs,
Quais são as condições para seguir a Jesus? Primeiro abandonar a tudo, ao mundo e seguir a Jesus. Em segundo lugar abandonar qualquer forma de violência sobre os outros, despindo os instintos de autodefesa e vingança e revestindo-se a túnica do amor. E nisso João é um exemplo magnífico: em Jerusalém tornar-se-á o Apóstolo do amor e deixará escrito para a eternidade: “Quem não amar o irmão, a quem vê, não pode amar a Deus, a quem não vê”. (cf. 1 Jo 4,20).
Ser seguidor ou discípulo é ser desapegado. Desapego dos pais, da casa, da segurança de onde repousar o corpo e a cabeça.
Se Eliseu foi ungido por Elias e coloca-se à serviço dele. Fomos todos pela paixão, morte e ressurreição de Jesus Cristo libertados para o exercício da liberdade.
Meus queridos Irmãos,
São Paulo, na Segunda Leitura, nos diz que fomos libertos por Cristo para vivermos na liberdade. Mas como combina essa liberdade com a severa exigência pronunciada no Evangelho? A liberdade cristã é “liberdade de”e “liberdade para”. “Liberdade de”outros sistemas, valores, apegos. Liberdade de outros mestres e senhores a não ser Cristo. Não é libertinagem, pois libertinagem não é liberdade e sim escravidão de veleidades, instintos, vícios, orgulho, auto-suficiência. O cristão “é livre para” o que Cristo deseja: a dedicação ao irmão, ao próximo, ao pobre, ao maltrapilho, ao doente, ao excomungado. Livre para a corajosa transformação da exploração em fraternidade; para a verdade que afugente a mentira; para tudo o que o Espírito de Deus nos inspira.
Irmãos e Irmãs, Caminhemos, pois, para Jerusalém celeste. Caminho longo. Caminho penoso. Caminho que devemos fazer dentro de nós para conseguir morrer para o pecado e buscar a santidade, o rosto sereno e radioso do Senhor. Por isso, na missa de hoje, devemos sair renovados no caminhar com Jesus rumo à liberdade e à glória. Jesus Cristo nos chama ao seu seguimento, porque Ele tem um projeto para cada um de nós. Não podemos, destarte, deixar que outras propostas nos desviem do caminho proposto por Jesus Cristo. Que nos coloquemos nos caminhos de Jesus, o Redentor!
Por: Padre Wagner Augusto Portugal